MEDICINA E ESPIRITUALIDADE

A espiritualidade pode se apresentar como uma fonte de força para os pacientes portadores de doenças graves, o que muitas vezes é chamada de...


A espiritualidade pode se apresentar como uma fonte de força para os pacientes portadores de doenças graves, o que muitas vezes é chamada de força interior. Os exemplos incluem a habilidade de encontrar um significado na vida, de pedir perdão ou perdoar, ou ainda ter um forte envolvimento espiritual na comunidade. Outro exemplo pode ser a conexão do paciente com Deus ou com o Sagrado. Essa conexão pode ajudar os pacientes a enfrentar, a encontrar esperança em meio ao sofrimento ou ainda encontrar alegria na vida e/ou simplesmente desenvolver a capacidade de ser grato. Algumas práticas como meditação, atenção plena ou oração podem ser uma fonte de força para os pacientes. Abordagens interdisciplinares para o cuidado espiritual são importantes para fornecer esses recursos, o que requer treinamento de médicos abolindo o preconceito e visando o conceito holístico do paciente.

O bem-estar espiritual está fortemente associado à qualidade de vida geral, ou seja, ao mental, ao físico, ao emocional e ao social. Estimular o bem-estar espiritual pode ser útil, especialmente quando os pacientes se aproximam do fim da vida. A espiritualidade está associada a uma melhor qualidade de vida para aqueles com doenças crônicas e graves, o que parece ser verdadeiro, independentemente da expectativa de vida.

Pacientes com câncer relataram que sua crença em Deus os ajudou a encontrar esperança, gratidão e positividade em sua experiência com a doença, e que sua espiritualidade é uma fonte de força que os ajuda a enfrentar, encontrar significado em suas vidas e dar sentido a uma experiência tão difícil. Outros estudos mostraram que a fé dos pacientes com doenças terminais tem sido associada a níveis mais baixos de depressão, melhor qualidade de vida em presença da morte iminente e ainda, proteção contra o desespero pois para eles a vida continua em outro plano. Para alguns, mesmo nesta existência, passamos pela experiência de “pequenas mortes”. “Morre” a criança para nascer o adolescente, “morre” o adolescente para nascer o adulto, “morre o adulto para nascer o velho e morre o velho passando para outra dimensão. Encontraremos essa forma de pensar no Livro Tibetano dos Mortos. Para quem assim pensa a proximidade da passagem para outra vida não é tão traumática.

Os pacientes geralmente não revelam espontaneamente seus problemas espiritual/ psicológico e/ou existencial, a menos que o médico pergunte sobre isso. Para isso o médico precisa de uma  formação menos materialista.  Uma ferramenta para ajudar os profissionais de saúde no diagnóstico do sofrimento existencial envolve simplesmente perguntar ao paciente: "Você está em paz?". Essa questão muito ampla, permite que os pacientes respondam dentro de sua própria estrutura, seja espiritual, psicológica ou existencial.  No entanto, alguns pacientes podem responder que estão em paz, mas ainda reclamam de sentimentos como desesperança. Portanto, uma avaliação específica de tal queixa é recomendada como parte de uma história clínica completa.

A espiritualidade é um elemento fundamental da vivência humana. Abrange a busca do indivíduo por significado e propósito na vida e a experiência do transcendente.

Evidências crescentes demonstram que o sofrimento espiritual é um aspecto significativo da angústia observada em pacientes sob cuidados paliativos. Os dados disponíveis sugerem que a espiritualidade, as crenças e práticas religiosas podem impactar profundamente na maneira como os pacientes lidam com o sofrimento.

Tal como acontece com outros aspectos dos cuidados paliativos, a colaboração interprofissional é importante quando se trata de abordar a espiritualidade. Todos os membros da equipe devem interagir com os pacientes, inclusive respondendo e abordando todas as dimensões do seu atendimento: espiritual, religioso e existencial, bem como físico, psicológico e social. Cada um desses componentes fornece uma visão sobre a ansiedade do paciente e sua capacidade de administrá-la.

As linhas que diferenciam o sofrimento espiritual, existencial e psicológico não são claras. Cada paciente usa uma linguagem diferente para descrever o que sente, alguns falando mais psicologicamente, outros com referências mais espirituais e outros a partir de uma estrutura existencial. O cuidado eficaz requer esforços de mente aberta para compreender essas múltiplas formas de pensar e usar o discernimento clínico para distinguir a origem do seu pesar. Um paciente com depressão grave e sofrimento espiritual ou existencial pode se beneficiar de referências a um psicólogo e a um padre, por exemplo.

O padecimento dos pacientes e familiares costuma ser desafiador para os médicos, pois muitos são treinados para “consertar” e tentar resolver a dor física dos pacientes. No entanto, nem todo sofrimento pode ser consertado. Os médicos não podem encontrar e atribuir objetivos ou construção de legado para um determinado paciente. A maioria deles simplesmente precisa ser totalmente ouvida por um clínico, ou um padre, ou um psicólogo compassivo, que possa estar presente na sua aflição. A maior parte dos pacientes pode encontrar respostas para si mesmos no processo de compartilhar seus sentimentos e sua dor com um médico atencioso. Isso exige que o clínico seja capaz de ouvir com compaixão, sem uma agenda, muitas vezes em silêncio e, ao fazer isso, criar um ambiente de confiança onde o paciente se sinta seguro para compartilhar suas preocupações mais profundas.

Haroldo de Freitas
Fotógrafo e Jornalista

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Jornal de Olinda: MEDICINA E ESPIRITUALIDADE
MEDICINA E ESPIRITUALIDADE
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