O grupo brasileiro de estudos em câncer de mama publicou em julho de 2020 na revista Breast Cancer Research and Treatment o estudo chamado AMAZONA III.
Este estudo coletou dados de mulheres diagnosticadas com câncer de mama em 23 instituições do Brasil (9 na região Sul, 7 na região Sudeste, 4 na região Nordeste, 2 no Centro Oeste e 1 na região Norte) entre os anos de 2016 e 2018, sendo analisadas 2950 pacientes no total.
Sessenta e três por cento das pacientes foram tratadas no sistema público (SUS) e 34% no sistema privado de saúde. A idade média ao diagnóstico foi de 53 anos (similar para pacientes do sistema público e privado de saúde). Entre as mulheres do sistema público, 42% tinham 3 ou mais filhos (comparado com 15% das mulheres no sistema privado). A maioria (67%) das pacientes do sistema privado tinham graduação universitária (sendo essa taxa de apenas 9,7% nas pacientes do sistema público). Oitenta e oito por cento das mulheres do sistema privado eram brancas, sendo esta taxa de 41% nas mulheres do SUS. A maioria das pacientes do sistema privado de saúde tinham emprego fixo (65%) quando comparadas com apenas 30% das mulheres do SUS.
As pacientes do sistema privado foram mais comumente diagnosticadas no estágio 1 quando comparadas com as pacientes do sistema público de saúde (40,6% vs 18,5% respectivamente). Esse estágio da doença é o mais inicial, geralmente diagnosticado na mamografia de rastreamento e com mais chance de cura. As mulheres do sistema público de saúde foram mais comumente diagnosticadas por sintomas (76,9% vs 47%) e no estágio 3, quando comparadas com as pacientes com plano de saúde privado , (33,5% vs 14,7% respectivamente).
Tal estudo é muito importante, visto que os registros de câncer no Brasil são bastante deficitários e temos poucas informações sociodemográficas dos pacientes nos bancos de dados nacionais. Ele é o maior já publicado em pacientes com câncer de mama no Brasil. Esta iniquidade é extremamente preocupante, visto que 75% da população brasileira depende do sistema público de saúde e pelo fato de que o estadiamento ao diagnóstico é um fator prognóstico muito importante em câncer de mama.
É de extrema importância que sejam implementadas melhores políticas públicas que garantam educação sobre fatores de risco e medidas de prevenção, bem como acesso aos métodos de diagnóstico precoce e tratamento adequado do câncer de mama às mulheres no Brasil.
Carolina Matias
Oncologista
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